Bem vindos ao meu dia-a-dia em Luanda/Angola.

Bem vindos ao meu dia-a-dia em Luanda/Angola



terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


Estava eu a pesquisar na internet a existência de um mapa que mostrasse os bairros de Luanda, quando me deparei com uma página bem interessante, de "coisos" (coisas = coisos) que eu iria escrever e cujas palavras retratam a realidade de forma muito clara. Tomei a liberdade de escolher alguns trechos e compartilhar com os meus seguidores, pois são informações bastante interessantes.

A CIDADE DO FUTURO

Luanda está povoada de vendedoras de fruta, peixes e legumes, que descem à cidade vindas do mercado Roque Santeiro (um dos maiores mercados a céu aberto do mundo), com alguidares à cabeça recheados de suculentas mangas, ananases ou carapaus. Ao fim da tarde, quando aumenta o trânsito nas ruas congestionadas da capital e não há lugar para estacionar e ir à padaria, surgem os convenientes sacos de pão fresco para levar para casa. Todos estes vendedores são geralmente afáveis e humildes, sem assediarem demasiado os passantes, como em certos países do Norte de África. Apenas não gostam que lhes tirem fotografias, por medo de represálias por parte da polícia, que passa o dia a persegui-los de um lado para o outro. Só as vendedoras de frutas e legumes beneficiam de alguma tolerância e condescendência. Milhares de desempregados encontram na venda ambulante uma solução de recursos para os seus problemas de sobrevivência. Estão, na sua maioria, ao serviço de comerciantes libaneses, indianos e chineses, que os abastecem a partir dos seus armazéns.

Tudo se vende e tudo se compra nas ruas de Luanda: cabides de plástico ou de madeira, malas com as ferramentas mais diversas, acessórios de automóveis, bicicletas para criança, isqueiros para o fogão, sapatos desportivos, jornais e revistas, tapetes, candeeiros de quarto, tábuas de passar a ferro, malas de viagem e os inevitáveis relógios e óculos de sol. Surpreendentemente, não se vê artesanato à venda. Num país que ainda recebe muito poucos turistas, a oferta de artesanato é limitada a dois ou três mercados na ilha e nos arredores de Luanda e a uma ou duas lojas no centro. Apesar de estarmos num dos países mais pobres do mundo, ninguém se surpreende com os modelos topo de gama que circulam em Luanda: dos Porsche, Mercedes e BMW, aos novíssimos Hummer e jipes japoneses importados directamente do Dubai por 50 mil dólares. Por força do afluxo de capitais decorrente das vendas de petróleo e diamantes, Luanda tornou-se numa cidade estupidamente cara - ao nível das mais dispendiosas do mundo - onde não é possível comer num restaurante por menos de 50 dólares por cabeça, mesmo se o estabelecimento for tipicamente angolano. Ligada à Marginal por um aterro, a Ilha de Luanda converteu-se na "cidade dos ricos": aqui se concentra a melhor oferta de bares e restaurantes, com magníficas esplanadas viradas para a baía ou para o mar.

Musseques a perder de vista

Mas o mais impressionante para o viajante que aterra em Luanda, é a extensão a perder de vista dos bairros de musseques nos arredores da capital. Este mar de favelas foi crescendo desordenadamente e sem o mínimo de condições de salubridade durante os anos de guerra, à medida que as populações do interior procuravam refúgio dos combates e da fome na grande cidade. Hoje, vivem em Luanda mais de quatro milhões de habitantes (cerca de um terço da população do país), a grande maioria dos quais são jovens sem qualquer tipo de raízes nas províncias de origem dos seus pais e avós. Caminhar pelas ruas pode ser uma experiência angustiante para os viajantes habituados a andar de carro com motorista, da saída do hotel ao restaurante ou ao escritório. Como não há turistas e todos os expatriados que trabalham em empresas instaladas em Luanda usam carro próprio, não há praticamente táxis na cidade. Esta é dominada pelos chamados "candongueiros", carrinhas Hiace de cor azul e branca, com condutores que correm como loucos pelas ruas, servindo os bairros periféricos não cobertos pelos transportes públicos oficiais.



O trânsito, como é de esperar numa cidade africana, é caótico. Impera a lei do mais forte nos cruzamentos - há um privilégio tácito para os jipes e veículos de gama alta - e quem circula nas rotundas não tem necessariamente prioridade. As ultrapassagens fazem-se pela esquerda, como pela direita e todos os espaços livres são preenchidos num afã por chegar mais cedo. Esta prerrogativa esbarra inevitavelmente nos constantes engarrafamentos que ocorrem nas ruas de Luanda a qualquer hora do dia - apenas de manhã, bem cedo (6h00) se consegue circular sem constrangimentos da Baixa para o aeroporto. Mas, a esta hora, todos os cuidados são poucos e o risco de acidentes é redobrado.

A maior dificuldade para quem circula a pé é atravessar as ruas. Escasseiam as passadeiras e os sinais luminosos que, no entanto, são respeitados ao contrário do que sucede noutros países africanos. Outro desafio é o de evitar pôr "a pata na poça" dos esgotos a céu aberto que correm nalguns passeios ou conseguir traçar o seu caminho no dédalo de carros estacionados em cima do passeio, evitando as crateras causadas pela degradação dos mesmos ou a ausência de tampas nos buracos de esgoto (só os que estão entupidos até ao cimo, não representam perigo).


"Manhattan" africana

Todavia, o surto de construção civil que se verifica, actualmente, em Luanda vai alterar completamente a paisagem da capital angolana, transformando-a nos próximos anos numa verdadeira "Manhattan" africana. Junto à famosa marginal, estão a ser erguidas novas torres com mais de 20 andares de escritórios das companhias petrolíferas Esso e Sonangol; a seguradora AAA já inaugurou o seu novo edifício sede, com dez andares; um investidor senegalês está a construir a Tour Elysée; e está prevista a construção de cinco novos hotéis.

No entanto, o maior dos arranha-céus de Luanda, com 25 andares de escritórios, habitação e espaços comerciais, vai ser construído pela Escom Imobiliária no bairro Miramar, dominando a cidade e a baía. E, mesmo ao lado, vão nascer duas torres de apartamentos com 18 andares. No segmento da habitação, prevê-se um grande desenvolvimento na zona de Luanda Sul, com a construção de residências para a classe alta e média-alta, enquanto o Governo procura realojar em bairros construídos pelos chineses, as populações que habitam os musseques construídos em pleno centro da capital e os ocupantes de prédios não acabados.

4 comentários:

  1. O blog está muito bom, mas...sugiro você economizar um pouco nas palavras e comece a montar um arquivo de textos, afim de escrever um livro sobre as suas aventuras em terras angolanas... pense nisso. Poderá servir como um guia para muitos brasileiros que buscam se aventurar por ai! Beijos!

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  2. Muito legal os relatos e os registros, Luanda mostra-se um lugar fascinante e com muitas realidades diferentes.

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  3. Eu fico imaginando vc, que tem o pé "bem levinho" dirigindo por aí...kkkkk

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  4. Achei o comentário de Fábio muito pertinente.vc tem uma forma legal de descrever lugares e impressões como ninguém.já que vc mora aí, seria uma forma de obter mais conhecimento e algumas regalias em luanda.como sugestão, aqui vai um título: "Um olhar sobre Luanda".
    Beijão!

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